Apesar de para mim o livro ser, todo ele, surpreendente, porque não conhecia a personalidade sombria da Enid Blyton, o que mais me marcou foi o último capítulo.
Nele, Alice Vieira conta-nos como, após a morte de Enid, a editora que detinha os direitos de autor da maior parte dos títulos saneou os livros, expurgando-os de todos os excertos (que aparentemente eram muitos) que eram de alguma forma racistas ou machistas.
A minha primeira reação foi de revolta. Mas cabe na cabeça de alguém alterar obras literárias? Alguém se lembraria de alterar os textos do Shakespeare por serem, sei lá, demasiado elitistas? Cada obra tem de ser entendida no seu contexto histórico e social e é também esse contexto que a distingue!
Depois, pensei melhor. A diferença neste caso é que se trata de livros para crianças. As crianças vão lê-los sem ninguém ao lado para lhes explicar que aquele livro tem um determinado contexto e que, na realidade, o lugar das mulheres não é necessariamente em casa, obedecendo ao seu marido, e que os bandidos também são muitas vezes brancos.
Continuo mais ou menos dividida. Realmente, preferia que o G. não lesse livros que pudessem passar-lhe valores que nós não consideramos certos. Mas, por outro lado, tenho esperança de conseguir educá-lo de forma a ele conseguir, por si, identificar em qualquer situação, incluindo a leitura, os valores com os quais se quer identificar.
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