segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Farinha, para que te quero?


No outro dia apetecia-nos panquecas ao pequeno-almoço mas não tínhamos leite. Fiz uma pesquisa rápida e cheguei à conclusão de que há muitas receitas sem leite. Lá fiz e ficaram ótimas; o leite não faz falta nenhuma.

Ontem voltou a apetecer-nos panquecas e não havia ovos... Nem me atrevi a pesquisar porque desconfiei que os ovos são essenciais para que a massa fique unida. De qualquer forma lá arrisquei e não é que até correu bem? Exigiam alguma arte na hora de virar para não se desfazerem, mas de resto não ficaram más.

Quero ver quando faltar a farinha. Eu sou menina para tentar na mesma, mas acho que já vai sair da categoria das panquecas. Bem vistas as coisas são ovos mexidos!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Encontros na Lavandaria


Todos os dias passo por uma lavandaria. Daquelas que têm várias máquinas de lavar à disposição dos clientes. A pessoa põe a roupa a lavar e fica à espera até que a máquina acabe.

Penso sempre nestas lavandarias como sítios de encontro, de preferência encontros dos quais resultam paixões intensas. Filmes a mais...

Efetivamente, se a pessoa vai ali é porque não tem máquina em casa, o que não tem nada de romântico, e a espera também não deve ser nada agradável, mas dou por mim sempre a romantizar aquele lugar.

Acredito que, contra todas as probabilidades, aquela lavandaria já assistiu ao nascer de muitas amizades e de boas conversas.

Mais alguém me acompanha nesta visão idílica das lavandarias?

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os Nogueira #3






Alice está há dez minutos a olhar pela janela. Lá fora está um sol brilhante e as árvores do parque em frente ao laboratório ondulam com a brisa leve que corre. Um senhor passeia o seu jornal e duas crianças correm atrás dos patos. Alice olha mas não vê nada disto. O seu olhar está voltado para o interior e para a confusão que prevê avizinhar-se.
De repente um pensamento atinge-a a alta velocidade.
– Esqueci-me de descongelar o salmão para o jantar. – É normalmente quando está concentrada que as preocupações mais mundanas a assaltam. Põe de parte esse pensamento, com a nota mental de que o jantar afinal será massa de atum, e regressa ao que a mantinha há dez minutos imóvel a olhar pela janela.
Pequenos excertos da conversa com André assomam à sua mente. – "Foi uma prateleira inteira de livros." – "O diretor da redação ficou um bocadinho preocupado." – Alice ponderava lentamente em como haveria de abordar a questão. Aquilo até tinha a sua piada. E porque foram falar com ela? Tiago não estava propriamente em idade de precisar de um puxão de orelhas e, principalmente, Alice não era, nem desejava fazer o papel de sua mãe. – "Era um manto de folhas rasgadas pelo chão." – "E no final ainda fez uma saída triunfal, batendo com a porta." – E o pior de tudo, porque é que Tiago lhe havia omitido um episódio tão importante da sua vida?
O telefone tocou, arrancando-a às suas deambulações. Era a realidade a chamar. As células que estivera a preparar na véspera estavam prontas para análise. Teria de se obrigar a descer ao laboratório se não quisesse desperdiçar as horas de trabalho gastas na preparação para este momento.
Enviou um e-mail a Tiago a dizer "Sei o que fizeste no final da semana passada.", pensando que talvez a melhor abordagem fosse através do humor. Deixou o gabinete, acolhedoramente banhado pelo sol, e dirigiu-se para o laboratório frio, no andar de baixo. Pelo caminho, obrigou-se a pôr de parte Tiago e os livros para se concentrar no trabalho que a esperava.
As horas seguintes foram passadas a olhar para um microscópio, de tal forma absorta que se esqueceu de parar para almoçar. Eram já quase três horas quando Mafalda irrompeu pelo laboratório para a arrastar até ao bar para comer uma sopa.
De regresso ao mundo macroscópico Alice pensou em pôr Mafalda a par do episódio caricato que lhe havia sido relatado de manhã, mas a amiga discursava empolgada sobre o livro que a tinha mantido acordada até tarde no dia anterior. Alice acreditava que estava a ouvir mas na realidade se lhe perguntassem sobre qualquer personagem do livro ou qualquer peripécia relatada não saberia dizer. Então novo pensamento a atingiu de repente – Tenho de tratar dos fatos de Carnaval para a Margarida e o Martim. –, provando que a sua mente estava longe daquele sítio e daquela conversa.

As crianças e a tecnologia da distração



Diz-nos o Público, na sua edição online, que "há cada vez mais alunos com sono porque estiveram no computador até tarde".

Corrigiria o título desta notícia para: "Há cada vez mais alunos com sono porque os pais os deixaram estar no computador até tarde".

Mas isto parece mais fácil do que é.

Ontem, o G. estava um bocadinho rabugento, talvez por ter sido acordado a meio do sono vespertino para jantar. Comeu a resmungar, brincou a rosnar e, eis se não quando, apareceu o Talking Cat. Os olhos começaram a brilhar.

Os computadores são a forma mais fácil de os manter ocupados. A imagem e o som prendem a atenção e descansam os adultos. Enquanto comem, enquanto tomam banho, enquanto andam de carro. E depois, assim será também necessariamente enquanto estudam, enquanto brincam, enquanto dão os primeiros beijinhos. Como seria se eu tivesse de olhar para o telemóvel a cada minuto quando, no início do meu segundo decénio de vida, passava as tardes a jogar futebol no pátio do meu prédio?

As consequências estão à vista na notícia. E os efeitos são imprevisíveis, porque esta é das primeiras gerações integralmente tecnológicas desde o berço.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Despedida


Nunca soubeste ser afetuoso. E nunca soubeste criar uma relação comigo. Mas de cada vez que me vias perguntavas sempre como ia o meu alemão. Olhando hoje para trás, percebo que era a tua forma de mostrar interesse pela minha vida e percebo também que era algo que te enchia de orgulho – que eu falasse alemão – já que tu próprio foste um homem das letras e da cultura! E por isso, no momento em que me despeço de ti, escolho guardar esta pergunta como lembrança de ti, da forma como te era possível expressar os sentimentos. Até um dia. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Conversa de circunstância em tempos de crise



A conversa de circunstância já não é o que era desde que começou a crise. Até aqui, a resposta para a pergunta "como vai a vida?" dependia do pessimismo ou otimismo do destinatário. O mais otimistista, mesmo que tivesse sido operado a uma hérnia uns minutos antes, diria que a vida vai bem. O mais pessimista, acabado de ganhar o Euromilhões, lá soltaria um "vai-se andando" enquanto franzia a testa com ar resignado.

A vida para os otimistas é hoje mais complicada. Ponto prévio: eu sou um otimista de circunstância e a vida corre-me bem.

No outro dia, no elevador, dou de caras com uns vizinhos mais velhos e com ar sério, como aliás deve ser qualquer solene encontro de condóminos no meio de transporte por eles mais utilizado.

"Como vai a vida", pergunta a senhora um andar e meio depois do início da viagem, após uma troca de sorrisos típica de quem não tem o que dizer.

"Bem...", respondo, hesitando. E penso se será esta a melhor forma de retorquir em tempo de crise. Tenho meio andar para pensar como me vou safar, para que não pensem que ignoro o sofrimento de todos os que são afetados pela crise e não podem, por imperativo categórico, dizer que está tudo bem.

"... quer dizer, isto agora está complicado...", acrescento.

Estou quase a chegar à minha paragem, a reação foi de aprovação em relação à qualificação da coisa como complicada, mas volto a pensar que estou bem.

"... quer dizer, eu não me posso queixar", finalizo.

"Olha que maravilha! É tão bom ouvir alguém que não se lamenta", afirma a senhora, sorrindo.

Chega a minha paragem, prendo a porta do elevador para ainda sorrir de volta e sigo refletindo no impacto da crise na conversa de circunstância.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Música à vista



Beck Hansen, músico americano, lançou um livro de partituras, em vez de lançar um álbum. Diz ele que assim desafia os fãs a darem vida à sua música.

Numa altura em que tudo o que é vintage está na moda, esta ideia parece-me brilhante! Faz pensar, ou melhor imaginar, um tempo em que a música era partilhada em modo de tertúlia. 

E só porque esta foto me faz rir e encaixa neste imaginário de música lida directamente da partitura, aqui fica.



Não apanharam mesmo bem as personalidades das personagens?

A cara dos livros


Gosto mesmo muito de ler. Tenho de ter sempre um livro que me acompanha e muitas vezes associo determinado período da minha vida ao livro que estava a ler na altura. 

E já disse aqui uma vez que à medida que vou avançando num livro sinto que as personagens se tornam minhas amigas, pessoas que começo a conhecer cada vez melhor e que passam a fazer parte do meu imaginário.

Mas ultimamente, e cada vez mais, comecei a notar que a capa do livro é um aspecto fundamental para mim. Até me podem dizer que um livro é óptimo mas, se a capa é feia, resisto e adio a leitura. Por outro lado, ao deambular por uma livraria noto que sou naturalmente atraída para determinado livro só pela sua capa.

No Pinterest dei no outro dia de caras com estas edições de clássicos.



Apeteceu-me pegar e começar logo a ler. E até acho que o Mr. Darcy deste "Orgulho e Preconceito" deve ser ainda mais bem-parecido (é uma palavra que se lhe adequa, não?) do que noutras versões que por aí andam.

O que acham? Faz sentido que a capa possa ditar a nossa escolha de leitura?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Lance Armstrong e Oprah Winfrey



"Armstrong ends his career by putting Oprah's back on the map", pode ler-se hoje no Twitter do The Daily Show.

É assim a vida... e o Mundo dos negócios também!

Sobre Armstrong, não sei o que dizer, a não ser que se trata de mais um abalo na nossa confiança enquanto seres humanos. As traições da fé, quando têm origem no pregador, são as mais duras.

O ciclismo perde também muita da sua credibilidade.

Por falar em ciclismo e, já agora, em negócios, a credibilidade do ciclismo fica bem demonstrada na sátira hoje feita na Mixórdia de Temáticas por Ricardo Araújo "Com o Apoio da Meo" Pereira, disponível nesta ligação. Nela se conta a história de François Ribeiro que, apesar dos seus problemas de colesterol, viu ser-lhe atribuída a vitória na "volta à França" por ter um dia passado atravessado os Campos Elísios de bicicleta.

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A varanda das divagações


Há vários sítios cá em casa dos quais eu gosto, mas um dos meus preferidos é a varanda.

No Verão comemos lá várias vezes, mas no Inverno também gosto de me escapar lá para fora durante um bocadinho, seja para apanhar uns raios de sol que decidam fazer a sua aparição ou, à noite, para ver as luzes da cidade e as (poucas) luzes de Monsanto.

Gostava muito, pelo menos acho que sim, de um dia viver rodeada pela Natureza. Ouvir os sons e o silêncio e ver as cores em constante mutação. Mas até lá é bom ter uma varanda com vista para um bocadinho de verde para estender o olhar e me perder em divagações.

Imagem A nossa é mais ou menos isto, mas para melhor, claro!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Mau empatar



Já sabíamos que o fair play na hora da vitória não abunda por aquelas bandas; a capacidade de saber perder nem se fala.

Descobrimos ontem um novo conceito: o de mau empatar.

Os Nogueira #2






– Tiago Nogueira. O prémio para a melhor reportagem do ano vai para... Tiago Nogueira. Quer subir ao palco?
– Todos os que votaram em mim merecem este prémio. Já estava à espera de ganhar, pelo que preparei um breve discurso. Gostaria de agradecer em primeiro lugar à minha equipa, que trabalhou intensamente ao longo deste último ano no meu projeto, em especial ao Rogério Figueiredo e à Susana Marialva, grandes profissionais e bons amigos. Sem eles eu não estaria aqui hoje. E por isso o prémio é também para eles. Uma nota muito especial para a minha mulher, a Alice, e para os nossos filhos, o Martim e a Margarida. Com eles partilho a minha vida, as minhas alegrias…
Tiago acordou pela primeira vez nesse dia pouco passava das sete com o barulho ensurdecedor da luz que vinha da casa-de-banho onde Alice tratava da higiene matinal.
Tentou voltar a adormecer. Não conseguiu. Fechou os olhos e franziu a testa à espera que o grande António Carvalho Rodrigues, jornalista com décadas de experiência, primeiro na imprensa e na rádio, nos últimos tempos na televisão e na internet, aparecesse novamente à sua frente com o prémio.
Tiago não acreditava que não ia assistir ao seu discurso na íntegra. Esta era a oportunidade dele. Quem sabe se voltaria a surgir. E ele estava a desperdiçá-la. O que ele não queria era voltar à sala no intervalo, com o seu discurso já apagado pelo tempo. Tudo dura, mas muito pouco permanece.
– Tirando senha, a espera será de duas horas. Não tirando senha, não será atendido. Suba ao sétimo piso para comprar o impresso e ao nono para carimbar o impresso. Depois volte ao segundo para entregar o impresso. Felizmente agora é tudo no mesmo edifício.
Tiago entrou no elevador e começou a contar os números dos andares depois de pôr a sua boca no silêncio.
– Três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, partiu o teto do prédio, nuvens…
Tiago não chegou a chegar ao céu, chegando Alice antes disso para, salvando-o e acordando-o pela segunda vez nesse dia, lhe oferecer um beijinho bem chegado ao pescoço. Tiago quis contar-lhe o drama que contado Alice não acreditaria. Alice conhece elevadores que descem. Como podem os elevadores subir? Descer faz sentido. É a gravidade. A gravidade do momento era outra e tinha gravado Margarida.
Todos os sonhos que sonhara para a sua vida refletiam-se nos lindos olhos de Alice. Alice era meiga, inteligente, ativa. E gostava de Tiago.
Tiago levantou-se, acordou o Martim, deu o pequeno almoço à Margarida, mudou a fralda do Martim, vestiu a Margarida com a saia castanha, acompanhou o Martim enquanto bebia o leite do biberon semi-rápido, gritou com a Margarida para ela ir lavar os dentes, enfiou o Martim na cama enquanto tomava banho, bebeu um copo de água, gritou com a Margarida para ela vestir um casaco, vestiu o casaco ao Martim, pediu à Margarida para tirar uma bolacha da caixa, que acabaria por ficar na cómoda da entrada enquanto ajeitava o cabelo do Martim. E saíram, de escadas nesse dia.
Tomilho, orégãos, salsa, pasta de dentes, bicicleta de montanha. Era essa a lista de compras afixada com um íman na porta do frigorífico.
Tiago chegou à escola da Margarida quando se lembrou que se tinha esquecido de informar Alice da necessidade de comprar os livros de exercícios de matemática que o professor tinha recomendado na véspera. Esqueceu-se contudo de se lembrar de ir falar com a professora de inglês que dois dias antes lhe tinha enviado uma mensagem intrigante com um vocabulário muito gramático.
Tentou estacionar à porta do jardim de infância do Martim, mas os lugares estavam como sempre ocupados. Para o Tiago, o Martim é o miúdo mais simpático de toda a escola. Sempre que vê o pai, o Martim corre para os seus braços. À noite, o pai corre para o seu quarto e conta-lhe histórias. Divertidas. E sorriem. Enquanto Alice e Margarida veem televisão.
Tiago olha para o relógio e assusta-se. Mas pensa no sonho e sorri quando revê a cara de espanto da Susana ao ouvir o seu discurso. Decide enviar uma mensagem a Alice. Alice não responde. Liga-lhe. Alice não atende.
Toca no rádio uma música estrangeira. São nove e meia. Tiago Nogueira tem de estar na redação às dez e nada se vai passar até lá. Garantido.

domingo, 13 de janeiro de 2013

A Vida é Boa


Caracas, 2006, por acaso.

Homenagem a Zico



Arthur Antunes Coimbra, de nome Zico, filho de pai português e mãe brasileira, é uma referência incontornável dos meus primeiros anos.

Não me lembro de o ver jogar, mas não me esqueço de ter crescido a admirá-lo.

E a admirar a equipa brasileira de 1982.

Sou, portanto, contra o seu abate.

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Natal numa caixa



Se fosse por mim, as decorações de Natal mantinham-se até Março.

Não é só o facto de gostar muito de ver as luzinhas a piscar na árvore da Natal, que aconchegam e animam. É também uma vontade de me agarrar à sensação que esta época do ano me traz. Gosto de procurar o presente para cada pessoa. Gosto das tradições mais antigas e também das mais recentes, que Ele trouxe consigo. Gosto de estar em família e sinto-me sempre muito feliz.

Enfim, esta lamechice toda só para dizer que lá me rendi e já guardei tudo na arrecadação. Para o ano há mais.

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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

História de um jantar cronometrado





"All you can eat" à porta. Entramos e soubemos que o menú se aplicava a pratos selecionados pelo período de uma hora e meia, com pedidos sucessivos.

Uma hora e meia de sashimi, nigiri e outros is em forma de salmão. Vamos a isso!

Fazemos o primeiro pedido...

... Cinco minutos...

... Dez minutos...

... Quinze minutos... começamos a suar...

... Uma hora depois, chegam os primeiros víveres e a cova do dente fica preenchida.

Segundo pedido preparado.

Recebemos o aviso: já só temos meia hora!!

O relógio despreza-nos e a meia hora passa num instante.

Será que ainda comemos a terceira dose?

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

As portas das fadas


Já imaginaram terem em casa portas pequeninas por onde todos os dias entram e saem fadas, passando despercebidas quando ninguém está a ver?

Em casa da Kate é assim. 

Bastaram duas pequenas portas, secretamente coladas à parede, para a imaginação do Harry, o filho, voar solta e criar todo um imaginário misterioso que o acompanha agora diariamente. 

Claro que elas só saem durante a noite e quando ninguém está a ver, mas convém ir deitando uma olhadela de vez em quando - pode ser que até haja a sorte de vislumbrar a ponta de um vestido a desaparecer pela porta. E claro que pode ser simpático deixar uma ou outra lembrança à porta para criar uma relação amigável.

Esta ideia é para mim fascinante. Penso em mim, versão criança, e tenho a certeza de que teria adorado saber que em minha casa havia um mistério. Toda a vida se torna mais divertida quando a nossa imaginação voa. E às vezes basta um pequeno estímulo como este.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Restaurantes e gratificações



– A conta, por favor. Palavras ditas com um rabisco no ar.

No final de um jantar num restaurante, lá vem ela. É preciso decidir se se deixa uma gorjeta e, se a questão não tiver ficado resolvida na decisão anterior, quanto. E agora?

Há sítios no Mundo onde é malvista ou pelo menos pouco habitual. Outros há em que, de tão bem-vista, passou a obrigatória, com valor fixo. As diferenças não são tão grandes como à primeira vista se poderia pensar. Em ambos os cenários, todos sabem com o que podem contar. E não é preciso decidir: no primeiro caso, não se paga; no segundo, paga-se e esta é parte do preço.

O problema começa quando, como no nosso burgo, a gorjeta é bem-vista, muito bem-vista, aliás, pelos empregados, que recebem uma parte considerável da sua remuneração por aí. Mas não é obrigatória. Nem recomendada de forma musculada. Felizmente, porque é o pior dos sistemas.

O preço contém o serviço e os empregados devem ser remunerados pelo patrão e não diretamente pelos clientes, in the blue corner.

In the red corner, é simpático gratificar o empregado por um serviço bem prestado.

– € 0,50 se a comida não tiver vindo fria, € 0,75 se nos tiver servido antes do senhor esquisito e € 1,25 se se tiver “esquecido” da segunda dose de arroz que até era antipático cobrar.

Mas o serviço já foi prestado. Não se ganha nada com a gorjeta. Será que se deve gratificar antes para se ter um bom serviço? Se calhar é melhor.

– € 0,50 para a comida não vir fria, € 0,75 para nos servir antes do senhor esquisito e € 1,25 para se “esquecer” da segunda dose de arroz que até era antipático cobrar.

Não, isto pode ser mal interpretado. Tem de ser no fim.

E o fim de hoje pode ser o início de amanhã.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os Nogueira #1



– Alice Nogueira, prazer.
A Alice é mulher, mãe, cientista, criativa e feliz. Nalgumas horas do dia é mais umas coisas do que outras e há momentos em que é tudo ao mesmo tempo, sem conseguir ser nada.
Hoje saiu de casa às 8h30. Antes disso já tinha tido tempo para fazer um chá e bebê-lo na varanda, a sentir na pele os primeiros raios do sol e a ler um pouco do livro que a acompanha no momento. A casa ainda dormia, assim como o mundo lá fora. Sabem-lhe bem estes momentos. São essenciais para se encontrar, para pensar uns minutos em si, antes de o rebuliço do dia a apanhar. Bastam dez minutos para se sentir pronta para tudo. De caminho para a casa-de-banho ainda murmurou um bom dia e um beijinho no pescoço do Tiago que ronronou qualquer coisa de volta e se virou para o lado para adiar por mais uns segundos essa chatice que é passar para a posição vertical.
Tomou banho e despachou-se, acordou com uma canção e muitos mimos a Margarida, que hoje queria mesmo levar aquela saia cinzenta das riscas. Estava para lavar – azar – mas a rabugice demorou uns minutos a ir embora. Deixou-a com o pai que habitualmente a leva à escola e saiu de casa.
Iniciou a caminhada de dez minutos até ao laboratório onde trabalha, brincando todos o dia com tubos de ensaio e criando explosões de mil cores. Bom, pelo menos é essa a versão que a Margarida conta aos colegas… Na verdade, grande parte dos dias são passados a escrever e a analisar dados e normalmente quando há uma explosão não é muito bom sinal.
No laboratório encontrou Mafalda e foram tomar um café rápido ao café do Sr. Alberto, um sítio acolhedor, gerido por uma personagem bem-disposta que todos os dias comenta o estado do tempo e diz mal dos políticos. Puseram em dia as novidades do dia anterior. A Mafalda é daquelas pessoas que sabe sempre tudo o que se passa, tanto com as pessoas que as rodeiam como com o mundo. Está a par dos livros que acabaram de sair, dos espetáculos que vale a pena ver, da nova marca maravilhosa de batons.
Findo o café voltamos, então, ao ponto em que começámos ali em cima.
Está um homem à espera de Alice na receção do laboratório.
– Bom dia. O meu nome é André Alves. Marcámos uma reunião para as 9h.
– Alice Nogueira, prazer. Devo confessar-lhe que estou bastante curiosa. O seu telefonema foi intrigante. Um assunto relacionado com o meu marido e livros?

Os Nogueira

"Os Nogueira" é uma história em evolução. Numa semana escrevo eu, noutra Ele e vamos desenvolvendo a história a partir do que o outro cria.

É ficção, é uma brincadeira, vamos ver que resultado dá.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Escrevinhar #4 - Natal


Toda a gente sabe que quem faz o arroz doce é a Avó Lina! Aquele arroz doce é o aconchego numa taça. A Avó Lina mexe durante uma hora, lentamente o leite a borbulhar.

Aquele arroz doce sabe a ternura, sabe à minha própria infância.

Todos os doces na imensidão da mesa são doces, mas só o arroz doce faz suspender o tempo porque foi a Avó Lina que o fez.

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