"Às vezes penso que a vida tranquila é inimiga de uma vida tranquila. Tenho o que quis ter, sou feliz porque nada me falta para ser feliz. Vivo num equilíbrio certo e tão imune a tudo que me vejo obrigada a ele, incapaz de tristezas profundas ou infelicidades justificadas.
Há outras maneiras de ser feliz que não conheço mas intuo, serão fugazes e ardentes, arrebatadoras, isso, arrebatadoras. Como chegar ao cimo da montanha russa para depois descer e subir de novo, e assim sempre. Só loucos ou poetas podem acreditar que depois de um cimo vem outro maior e outro ainda, mas é assim que vivem, por isso cantam e gritam como eu não. E, no entanto, tenho dentro de mim partes descontentes que esperam há muito. Por que diabo esperam?
Falta-me imaginação, uma imaginação inútil, capaz de inventar o que não preciso e que tanta falta me faz. Vejo as minhas amigas e ouço o que me contam, as futilidades que praticam, felizes de as praticarem, condeno-as com o que sou e invejo-as com o que gostaria de ser."
(Nuno Camarneiro, Debaixo de Algum Céu, Leya, 2013)
Acabei de ler esta passagem sem fôlego por ser tão arrebatadora e tão certa. E cheguei à conclusão de que tenho muito medo que isto me aconteça.
Depende apenas de mim, o que me descansa um pouco, mas deve ser tão fácil resvalar para a vida tranquila em que não falta nada para ser feliz e, no entanto, falta tudo. Um alerta de vez em quando é bem-vindo!
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