segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os Nogueira #1



– Alice Nogueira, prazer.
A Alice é mulher, mãe, cientista, criativa e feliz. Nalgumas horas do dia é mais umas coisas do que outras e há momentos em que é tudo ao mesmo tempo, sem conseguir ser nada.
Hoje saiu de casa às 8h30. Antes disso já tinha tido tempo para fazer um chá e bebê-lo na varanda, a sentir na pele os primeiros raios do sol e a ler um pouco do livro que a acompanha no momento. A casa ainda dormia, assim como o mundo lá fora. Sabem-lhe bem estes momentos. São essenciais para se encontrar, para pensar uns minutos em si, antes de o rebuliço do dia a apanhar. Bastam dez minutos para se sentir pronta para tudo. De caminho para a casa-de-banho ainda murmurou um bom dia e um beijinho no pescoço do Tiago que ronronou qualquer coisa de volta e se virou para o lado para adiar por mais uns segundos essa chatice que é passar para a posição vertical.
Tomou banho e despachou-se, acordou com uma canção e muitos mimos a Margarida, que hoje queria mesmo levar aquela saia cinzenta das riscas. Estava para lavar – azar – mas a rabugice demorou uns minutos a ir embora. Deixou-a com o pai que habitualmente a leva à escola e saiu de casa.
Iniciou a caminhada de dez minutos até ao laboratório onde trabalha, brincando todos o dia com tubos de ensaio e criando explosões de mil cores. Bom, pelo menos é essa a versão que a Margarida conta aos colegas… Na verdade, grande parte dos dias são passados a escrever e a analisar dados e normalmente quando há uma explosão não é muito bom sinal.
No laboratório encontrou Mafalda e foram tomar um café rápido ao café do Sr. Alberto, um sítio acolhedor, gerido por uma personagem bem-disposta que todos os dias comenta o estado do tempo e diz mal dos políticos. Puseram em dia as novidades do dia anterior. A Mafalda é daquelas pessoas que sabe sempre tudo o que se passa, tanto com as pessoas que as rodeiam como com o mundo. Está a par dos livros que acabaram de sair, dos espetáculos que vale a pena ver, da nova marca maravilhosa de batons.
Findo o café voltamos, então, ao ponto em que começámos ali em cima.
Está um homem à espera de Alice na receção do laboratório.
– Bom dia. O meu nome é André Alves. Marcámos uma reunião para as 9h.
– Alice Nogueira, prazer. Devo confessar-lhe que estou bastante curiosa. O seu telefonema foi intrigante. Um assunto relacionado com o meu marido e livros?

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