quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Escrevinhar #1 - Ondas - Lado B


Há uns tempos participámos num workshop de escrita criativa. O texto deste Lado B surgiu do mesmo estímulo que o do Lado A. A mesma realidade, duas perspetivas...
 
– Vou desenhar-te!

– Desenhar-me? Queres dizer numa folha?

– Sim.

– Mas isso é tão 2012. Hoje já ninguém desenha… É limitador… Fica ali tudo espalmado, sem vida… Faz antes um holograma meu.

– Já sabes que ainda não me consegui habituar a isso. O desenho fica quietinho. Se quero, olho para ele, se não guardo-o. O holograma anda por aí, parece um fantasma. Prefiro a minha caneta.

– Que seca! Era só o que me faltava, um artista com manias vintage!

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Escrevinhar #1 - Ondas - Lado A



Há uns tempos participámos num workshop de escrita criativa. Só para ver como era, só para descontrair, só porque sim.

A estrutura ao longo das quatro sessões foi sempre parecida. Era-nos apresentado um estímulo - postais com imagens, caixas com diferentes cheiros, plasticina para moldar, uma música. A partir daí cada um construía um texto, em dez minutos.

O mais engraçado foi ver como o mesmo estímulo dá origem a criações tão diferentes e como cada um tem um estilo, um interesse ou mesmo um assunto mal resolvido que vai aparecendo reinventado em muitos dos textos.

Vamos aqui partilhar alguns dos nossos textos para não esquecermos, para vos entreter, só porque sim.

Os pares - Lado A e B - são sempre os dois textos que tiveram origem no mesmo estímulo.

Comecemos.

“Eu sou tão banco como o senhor”, disse o banco do jardim para o banco de crédito, na filha do supermercado.
 
Logo atrás, o banco da escola, de cabeça baixa, murmurou de forma a que se ouvisse sem se ouvir: “Este banco de crédito tem a mania que é mais banco do que nós”.
 
E pensou que nada podia fazer. Ele já deixara de se sentir banco, desde que fora amontoado numa arrecadação da escola e substituído por cadeiras. “Cadeiras!”, exclamou. “Como é que é possível que uma cadeira me substitua?”.
 
Mas esqueceu rapidamente a questão quando o banco de dados lhe passou à frente na fila, tudo para garantir que a loja não fechava e os 50% de desconto estavam garantidos.
 
“Oh banco de dados, põe-te no teu lugar, bem lá atrás, que isto aqui tem uma ordem”, balbuciou, sem respeito, pondo em ordem o banco de dados, que, ainda assim, pôde passar à frente do branco, que por um “r” ficou para o fim, por um “r” nem banco é, dos bons, dos maus, dos que estão à frente ou mais à frente.

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domingo, 19 de agosto de 2012

Vamos jogar um jogo? - Lado B


Fomos já tarde para a cama, mas ainda apetecia fazer mais um jogo para acabar o dia em beleza. 

Depois de o Carteiro do Pablo Neruda e o Zé Povinho terem entrado no nosso quarto, foi a vez do clássico só mais um, que normalmente acaba em quatro ou cinco... 

Ela: É português?
Ele: Sim!
Ela: É uma pessoa real?
Ele: Não propriamente... Representa uma pessoa real, mas não é real.
Ela: É uma personagem?
Ele: Não é bem uma personagem...
Ela: Então?
Ele: É mais uma ideia, um conceito.

Alguns minutos depois...

Ela: Já sei. É o Zé Ninguém!
Ele: Siiiiiiiiiim. Era um pouco complicado.

"Acho que vou levar com a almofada", digo, entre sorrisos, no quarto já escuro.


Vamos jogar um jogo? - Lado A


Durante as férias há sempre um momento em que Ele diz: "Vamos jogar um jogo!". Ora, normalmente este início de diálogo ocorre quando eu estou completamente embrenhada na leitura, a viver uma qualquer história que não apetece abandonar a meio, pelo que se compreende que a minha resposta seja sempre: (Grunhido) "Mais daqui a bocado...".  

O problema é que Ele consegue ser muito persistente. E eu acabo sempre por ceder entre mais uns grunhidos.

No jogo mais vezes escolhido um pensa numa pessoa e o outro tem de adivinhar quem é, fazendo apenas perguntas para as quais a resposta seja sim ou não.

Ao fim de cinco minutos já estou aos pulinhos (metafóricos, entenda-se) a tentar pensar em pessoas que sejam difíceis de adivinhar e a desvendar as que Ele magica.

Passamos normalmente as horas seguintes naquilo, a rir e a espicaçar o outro. E isso ultrapassa em larga medida o prazer que se retira de qualquer leitura. Só custa começar...!

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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Voltei, voltei, voltei de lá - Lado B



Não percebi aquela parte: “ontem […] o terceiro CD da coleção voltou a ouvir-se pelos caminhos de Portugal”. Ontem? É impressão minha ou aquele CD já se ouviu 3572 vezes em inúmeras viagens ou voltinhas de carro…?

Ainda assim, tenho de admitir que eu também gosto de ouvir a história do Zé Brasileiro Português de Braga e de saber como o coração bate, então, pela Cinderela. As letras são um tanto ou quanto ridículas mas são genuínas e a verdade é que nos transportam para outro tempo e fazem ressoar qualquer coisa dentro de nós. Será que podemos dizer para desculpar este nosso “guilty pleasure” que as músicas são vintage? É que se pudermos ficam logo legitimadas.

Como ponto final note-se, no entanto, que não incluo neste lote nostálgico os peitos da cabritinha, nem qualquer garagem apertadinha, e que a minha nostalgia se satisfaz com um relembrar esporádico, sem necessidade de repetir 643 a mesma música… Mensagem recebida?

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Voltei, voltei, voltei de lá - Lado A


Quando, há uns dois anos, comprámos um conjunto de um livro e quatro CDs com clássicos de sempre da música portuguesa para oferecer a alguém no Natal, já desconfiava que acabariam na parte de trás do nosso carro. Esse é o sítio onde, no nosso carro do outro milénio, se inserem os CDs, seis de cada vez, no máximo, que aí passam depois longas temporadas, abandonados ao seu destino.

Mas ontem, no regresso da primeira parte das nossas férias, o terceiro CD da coleção voltou a ouvir-se pelos caminhos de Portugal.

Porque é que gosto tanto dos caminhos de Portugal, das saudades da vinha e da aguardente ou da igreja toda iluminada?

Não sei! Talvez porque o sentimento quando oiço e canto estas músicas me transporta para uma realidade diferente, ligada a mim por uma linha ténue mas profunda.

E tenho pena de não poder ouvir nesse CD o regresso de França no tão querido mês de agosto… “Voltei, voltei, voltei de lá!”

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O jardim do Berardo - Lado B


Por € 2,5, convertíveis numa garrafa de vinho, tem-se acesso a um local idílico nos arredores do Bombarral, a menos de uma hora de Lisboa!

Seria difícil imaginar que ali encontraríamos um espaço perfeito para descansar em paz, em harmonia com o meio ambiente e com o ambiente no meio de nós.

O jardim integrado na paisagem, o lago que descansa entre os guerreiros e os viajantes que fazem cócegas ao Buda... Uma viagem que concede uns minutos de vida extra a quem a faz e que recomendo a quem deles precisa.

São poucos os visitantes, felizmente, diga-se, na minha minha perspetiva egoísta de ontem!

Um jardim como este estaria, em qualquer país da Europa ou nos Estados Unidos da América, repleto de entusiastas da reflexão, do descanso e do passeio, artistas, desportistas e curiosos, interessados pela cultura e pelo ambiente.

Vão e divulguem... menos quando nós lá voltarmos, porque talvez se perca um pouco da magia se os soldados tiverem muita companhia!

Ah... E ainda bebemos o J.P. ao jantar!

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O jardim do Berardo - Lado A


Hoje fomos ao jardim que o Berardo idealizou e construiu no Bombarral. Sabíamos que tinha esculturas de Budas e pouco mais.


Não desiludiu.



O jardim é lindo, não demasiado arranjado, com um lago a brilhar, refletindo a luz do sol. Mas o que o torna diferente são as esculturas que dominam o espaço. É diferente de tudo o que já vi em Portugal. Mistura figuras budistas, com Shivas, guerreiros nipónicos e esculturas modernas. Pouco interessa se esteticamente nos identificamos com o que vemos. Olhei para tudo aquilo e vi as ideias de um homem que se atreve a pensar fora do quadrado, para além daquilo que é aceite e comum. E pessoas assim são tão importantes para fazer evoluir uma sociedade. Fico feliz por ele ter ideias diferentes e inovadoras e por investir o seu dinheiro na cultura e educação no nosso país empoeirado e desdenhador. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

24 - Lado B



A série de que mais gostei até hoje (e da qual vi cada episódio sem excepção) chamava-se "Gilmore Girls". A história era, provavelmente, banal... A vida de uma mãe e de uma filha numa pequena terra nos EUA. Mas aquilo de que eu gostava era da inteligência dos diálogos. Irónicos, reveladores de um humor subtil e de uma cumplicidade fantástica entre elas. Agora que penso nisso, eram as próprias personagens que me cativavam. Foram construídas de forma brilhante e a cada episódio se definiam melhor, entrando no meu imaginário.

E é essa a diferença entre uma série e um filme. A série permite-nos desenvolver uma relação com as personagens, o que por ridículo que pareça, eu considero enriquecedor. Permite-nos conhecer-nos melhor a nós próprios por nos identificarmos ou, pelo contrário, repudiarmos determinadas atitudes ou valores demonstrados. Tal como as personagens de um livro, a convivência prolongada torna-as parte de nós.

Posto isto, o que é importante para mim é que a série tenha personagens marcantes - como o "Sexo e a Cidade" ou a "Modern Family". E consta que é o caso do 24...! Apesar de ainda não ter a certeza, parece que eu e o Jack Bauer vamos ser amigos.

E Ele vai ter que viver com a incerteza do futuro... uns dias se passarão antes que saiba quem é o agente infiltrado...! 

24 - Lado A


Antes de virmos de férias, Ela teve a ideia de comprar uma série para acompanhar os nossos serões: a escolha recaiu no 24.

Pareceu-me uma boa ideia, até perceber, a meio do primeiro episódio, por volta das 0h33, que aquilo tão cedo não ia acabar!

A desilusão foi grande, embora incomparável com a de há uns anos atrás, quando a meio de uma tarde solitária de sábado, comecei a ver um filme americano sobre um grupo de prisioneiros que estava a arquitectar um plano de fuga fascinante. Uma hora depois, já empolgado e ansioso por saber como acabaria aquela história, o filme terminou abruptamente... Fui ver o que se tinha passado e descobri que o 'filme' se chamava Prison Break!

Ainda hoje não sei como, se e especialmente quando terminou a série, mas desde então percebi que não gosto de séries que não acabam no final de cada episódio e começam no início do episódio seguinte. Para isso, vejo uma telenovela! Aliás, chamem-lhes telenovelas, quanto mais não seja para eu não ser enganado tantas vezes.

Bem, agora tenho de ir, que já são quase quatro da manhã e ainda não sei quem é o traidor dentro da agência... Pelo menos aqui temos a séria completa!

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domingo, 12 de agosto de 2012

Jogos Olímpicos - Lado B




Todos os Jogos Olímpicos têm para mim o mesmo encanto. O que justifica isso... o facto de não ser minimamente entendida em desporto.
 
Fascina-me a adrenalina que se vive durante a corrida dos 100 m e como parece fácil e até elegante o salto à vara, mas não sei a que horas se realiza nenhuma destas provas, nem me desvio do meu caminho para as ver.

Aquilo que não perco é a cerimónia de abertura! Desta vez, lá estava, à hora certa, em frente à televisão, pronta para ver onde a criatividade dos ingleses (e 35 milhões de euros) nos levariam nessa noite. No final, não pôde faltar o telefonema para a minha mãe: Viste? Estava gira a ideia de nos levarem através da sua história. E a importância que deram ao Serviço Nacional de Saúde? E o Rowan Atkinson, um bocadinho visto mas ainda assim marcante...

A ginástica, em especial a rítmica, vejo-a como um espetáculo. Não conheço nenhuma das ginastas, nem estou demasiado atenta à técnica. Deixo-me apenas levar pela beleza dos movimentos, pela sua fluidez e pelas emoções que conseguem transmitir-me. Vou comentando para o ar: Ahh! Como é que ela fez aquilo? ou Coitada, o exercício não lhe correu nada bem. E, confesso, também o ocasional: Quem é que escolheu aquele fato, parece que caiu numa piscina de lantejoulas amarelas! Enfim...!

Ele diz que está desiludido mas eu bem o vi absolutamente preso aos quartos-de-final do ping pong, gritando e incentivando os jogadores portugueses! O espetáculo poderá não ser suficiente para prender. Já a emoção é traiçoeira.


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Jogos Olímpicos - Lado A


Desde a desilusão dos Jogos Olímpicos de Barcelona, nunca mais este evento foi o mesmo. Nesse ano, com 13 anos, vi horas e horas de provas, desde a canoagem ao hóquei em campo, passando pela natação sincronizada. Nem uma medalha para Portugal, o que significou - apesar de então não o saber - um adeus ao evento.

Cinco olimpíadas se passaram desde então e o entusiasmo é cada vez menor. Em Atlanta ainda assisti ao vivo à fase de grupos do futebol (que não foi em Atlanta, já agora!), mas o futebol é um Mundo à parte na vida dos Jogos.

Este ano fica marcado, para mim, por um jogo de ténis de mesa, emocionante, que adiou por uma ou duas horas a partida para férias... Ah, e o Phelps e o Bolt, estrelas que ficarão para a história, porque, apesar de tudo, os Jogos ainda têm grande mediatismo à nossa volta.

Para Ela, os Jogos são as cerimónias de abertura e de encerramento e uma vista de olhos na ginástica. Era o que desconfiava: não é desporto; é especáculo! Legítimo, sem dúvida, mas não chega para me prender.

De aqui a quatro anos, pelo menos o cenário espera-se idílico: venha o Rio de Janeiro até nós!

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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Onde deixámos a Amélie?


Os olhos dos bebés brilham de felicidade com as coisas mais insignificantes. Já repararam? Aos 9 meses, um bocado de pão para roer, uma música para bater palmas ou uma careta ridícula são suficientes para criar gargalhadas genuínas! São mestres na arte de retirar prazer das pequenas coisas.
E nós, onde é que perdemos essa capacidade?
Pensamos demais sobre o que é preciso para sermos felizes... Basta pensar na quantidade de livros que há sobre o assunto...!
Desde que vejo estas gargalhadas comecei a pensar que o melhor é não racionalizar (o que para mim não é nada fácil...).
Ter o sorriso sempre a bailar pelo agora e não pelo que será ou poderia ser. Estar, simplesmente.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O cartão de crédito do Bon Jovi

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A parte boa de acordar com o choro de mimo do G a meio da noite? É lembrar-me do que estava a sonhar naquele momento! 
Esta noite encontrei no chão um cartão de crédito que tinha escrito o nome Bon Jovi... Quando pensava no que havia de fazer para o devolver, pára uma limousine da qual sai um senhor, com o ar despachado de um assistente. Sei imediatamente que veio à procura do cartão e entrego-lho. Ele diz-me para esperar e regressa ao carro de onde tira um bilhete duplo para um concerto dos Bon Jovi, como forma de agradecimento. O assistente vai-se embora e eu fico ali a pensar o que é que hei-de fazer àquilo porque nem sequer gosto de Bon Jovi... Haaa...! De certeza que um psicólogo teria uma explicação fascinante para a existência deste sonho. Eu, no entanto, acho que este sonho serviu unicamente para me divertir! Acordei, com gritos lamurientos, é certo, mas com um sorriso interior porque o sonho era parvo!