segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Caridade ou a alegria nos pequenos gestos? - Lado B

 
 
 
O problema da caridade? É uma forma de privatização da redistribuição da riqueza. Dir-me-ão que se a eletricidade, a água, o serviço público de televisão, etc., podem ser privatizados, porque não a redistribuição da riqueza?
 
Talvez as razões para uma resposta negativa se apliquem a todos os setores anteriormente referidos, mas parece-me que neste são ainda mais relevantes. Simplesmente porque os privados não serão certamente mais eficazes na prossecução deste objetivo. E isto, simplesmente, porque não querem ser eficazes, cumprindo o objetivo principal da redistribuição da riqueza: um maior equilíbrio, tendo em vista uma sociedade mais justa e solidária.
 
Esta tarefa deve caber ao Estado, que somos todos nós, e portanto, também, cada um de nós individualmente. Mas a decisão - política, como todas as decisões - concreta de como redistribuir a riqueza deve obedecer às regras democráticas e do Estado de direito. Não deve ser cada um, por si, a decidir como deve ser redistribuída a riqueza, mas todos, em conjunto, como sociedade, a determinar a forma de alcançar este desígnio.
 
A (nossa) democracia talvez não tenha ainda conseguido trabalhar neste sentido, mas isso resulta mais da demissão de (quase) todos nós da decisão política do que da incompetência dos governantes, que, tal como noutros setores, acabam também por intervir muitas vezes sob a sombra de interesses meramente privados.
 
Se os pequenos gestos de que Ela fala dão alegria a quem recebe a esmola, também eternizam a sua condição de pedintes, dependentes dos outros, com tudo o que uma dependência tem de perverso, e talvez seja, afinal, essencialmente, a alegria de quem dá.
 

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