Este ano, decidimos encerrar o capítulo de agosto e começar o de setembro com um fim-de-semana a dois (sem o G., muito bem entregue em casa da avó), na tranquila e bela vila de Arraiolos.
No sábado, disseram-nos que havia festa na aldeia de Igrejinha e aí fomos nós, logo a seguir ao jantar, sem saber muito bem o que o local nos reservava.
E muito nos reservava, diga-se...
Chegados à aldeia e às festas, fomos surpreendidos por um momento fascinante de cultura popular. Os poetas decimeiros tinham começado pouco antes a declamar as suas décimas à Nossa Senhora da Consolação, num palanque virado de costas para o público e de frente para a imagem da Nossa Senhora.
Umas melhores, outras piores (algumas mesmo muito fracas em termos de conteúdo), mas todas com a intensidade de que aquele é um momento único e marcante para aquela terra.
Pareceu não haver regras quanto ao conteúdo das décimas, apenas quanto à forma, refletindo-se ali também muito do nosso país.
Desde o jovem decimeiro, queixando-se de que a sua geração já não quer rimar (esperemos que o ministro Nuno Crato não se lembre de criar um currículo profissional específico de decimeiro para quem reprove mais de três vezes... porque é capaz de não dar grande decimeiro), ao avô decimeiro, que incitou em público o seu neto a sair das saias da mãe, passando pelo nostálgico decimeiro, que lembrou, homenageando, decimeiros antigos, alguns já falecidos, pelos otimistas decimeiros, que ali anunciaram formas de estar para ultrapassar ou contornar a crise, e pelo irreverente decimeiro, que declamou o decréscimo de qualidade da arte nos últimos anos, fica na memória a imagem de uma tradição que não se deve perder.
Que melhor momento para passar uma mensagem?
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