terça-feira, 12 de março de 2013

Os Nogueira #5



São novamente 8h30 da manhã e Alice sai novamente de casa para se dirigir novamente ao laboratório.
Nenhum dia é igual ao anterior e, no entanto, há alturas em que parece que sim.
Na véspera, o serão tinha sido passado praticamente em silêncio. Tiago tinha-lhe dado umas respostas tortas assim que chegou a casa, irritado. Recusou-se a falar do assunto do livro que tinha de ser escrito e do escritório do Dr. Antero que tinha de ser arrumado. Pelos vistos, a sua abordagem através do humor tinha falhado.
A Margarida tornou o jantar um pouco menos incómodo porque fez questão de explicar que há meninos na turma dela que são fixes e outros que são um seca. No fundo, é essa a distinção na sociedade também, apesar de o critério não ser talvez quem gosta e quem não gosta de cantar e dançar. Já o Martim deve ter percebido que não era o momento para se armar em engraçado porque não atirou os talheres para o chão uma única vez durante o jantar.
Alice chegou ao café do Sr. Alberto, onde Mafalda já se encontrava a comer uma bola de berlim e a beber um café. Pelos vistos, para a amiga o dia também não estava a começar bem. Quando Mafalda acorda rabugenta vinga-se ao pequeno-almoço, ingerindo o bolo mais obsceno que conseguir encontrar.
– Então, afinal o que acabaram por fazer ontem à noite? – Perguntou-lhe Mafalda.
O tempo parou. Tudo perdeu materialidade à volta de Alice, que se sentiu flutuar. Seria possível? Estaria tão absorta no dia-a-dia, nas rotinas, que se tinha esquecido? Podia tentar convencer-se de que a culpa tinha sido dos livros rasgados e dos livros por escrever, mas não era verdade. Tinha-se simplesmente esquecido.
De repente, sentiu um alívio. Pelo menos isso explicava a disposição de Tiago na véspera à noite. O tempo retomou o seu curso e Alice, com um sorriso na cara, saiu em passo acelerado na direção do seu gabinete.
Não tinha querido admitir nem para si própria, mas a verdade é que tinha tido medo. Sabia que Helena, a colega de Tiago, rondava sempre, qual abutre à espera de uma morte. Alice e Tiago dão-se bem mas por vezes a vida submerge-nos e esquecemo-nos de cuidar. Gastamos tanta energia com os afazeres diários que depois ficamos com pouca para o que importa e nos faz felizes.
Completas estas deambulações, Alice escreveu num e-mail: “Sei o que fiz no final do dia de ontem.” – esperando que desta vez a abordagem através do humor funcionasse.
Marcou mesa na marisqueira de que Tiago mais gosta, ligou para a sogra para combinar deixar lá o Martim e a Margarida depois da escola e pensou que tinha de pôr o pijama de xadrez para lavar.

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